Os azulejos do Suru Bar têm algo diferente em seus rejuntes cor-de-rosa. Ainda que tenha acabado de abrir as portas, o bar já nasceu com borogodó. Fincado no antro da boêmia carioca, o Baixo Lapa, o bar é puro suco de Rio de Janeiro: tem coquetelaria acessível, cerveja de garrafa, comida de botequim, música boa e zero frescura.
– O Suru é uma tentativa de inserir a coquetelaria dentro da cultura da boemia carioca e brasileira. Antes de entender o que é a coquetelaria standard, a gente pensou em explorar a cultura de bar do Rio de Janeiro e do Brasil. Por isso a cerveja de 600ml, por isso o samba, porque a gente está inserido na Lapa, que é uma região Central do Rio de Janeiro. A cultura de botequim aqui é muito forte, a coquetelaria está engatinhando ainda. Nosso trabalho é fazer essa composição, ter uma mesa com uma Brahma e três coquetéis – diz Igor Renovato – A ideia é ser um lugar agradável, com uma coquetelaria inclusiva em preços e em sabor, com sabores populares, de fácil reconhecimento. Tem coquetéis com manga, com caju… Aplicando técnicas boas, sem pirar no ingrediente. Fazendo o simples e o gostoso.
Mas esse jeitão casual não é bagunça não. Primeiro negócio dos bartenders carioca Igor Renovato e do mineiro Raí Mendes, o Suru é coisa de altíssimo nível. A começar pelo balcão. São oito elegantes e confortáveis bancadas de couro acolchoadas colocadas estrategicamente para você ficar ali o dia inteiro e zerar carta de nove coquetéis autorais, nove clássicos brasileiros e duas batidas sem nem se dar conta.
– É uma quebra de expectativa a todo momento, desde a estética até o serviço. A gente tem mesas de botequins tradicionais, como do Nova Capela e do Bar Brasil, que remetem mais aos botequins clássicos, como as bancadas que remetem a bares ditos de alta coquetelaria. A até brincamos que gastamos muito nas banquetas do balcão e faltou dinheiro para as mesas do bar. Mas é que sendo um bar de bartender também, a gente prezou muito pela experiência de balcão. Criamos uma bancada de balcão bem confortável para que a pessoa pudesse ter uma experiência ali e ficar bem confortável durante aquele tempo. Foi por isso que pensamos nas banquetas de couro acolchoadas do bar – conta Igor.
A premissa de coquetelaria standard brasileira é levada à risca. Os drinques variam entre R$ 12 e R$ 31 e são executados com precisão pelo chefe de bar Will Moura. O serviço é outro ponto alto, quem cuida do salão é Luiz Rosalvos, também bartender – o que eleva a experiência a outro patamar.
Nas prateleiras, Jurubeba, Cinzano, Becoza, Campari, Cynar e muita cachaça. A grande aposta da casa é o Zé (R$ 24), gíria mineira transformada em drinque e que já entrou na carta como um novo clássico brasileiro: Cynar, cachaça envelhecida, mel, limão e hortelã.
– É um smash, que está em alta, e não tem nenhum clássico brasileiro que compõe essa linha de coquetel, que é uma base alcoólica, uma base cítrica, uma base doce e alguma hortaliça para compor. E chamar de “Zé”, porque em todo lugar você encontra um Zé, em todo lugar do Brasil você encontra um Zé – brincadeiras à parte, Igor explica as virtudes do coquetel – Ele compõem bem a linha de sabor que o brasileiro gosta, sobretudo o carioca. São ingredientes muito fáceis de encontrar em qualquer bar, e tem um custo-benefício bem baixo: Cynar tem um preço bom, mel, hortelã e limão também. É um drinque de CMV bom para o bar, prático e de sabor agradável.
Merecem destaque o Muquirana (R$ 22), justa homenagem a Sergio Rabello, o Serjão, do Galeto Sat´s: Campari, tônica de laranja e compromisso com quem bebe; o Surubeba (R$ 14), com Jurubeba, Cinzano e Cynar; e o Becoza (R$ 24), com cachaça branca, Becoza louco, limão e bitter.
– A maioria desses drinques foram pensados e criados em mesas de botequim, nas madrugadas do Rio de Janeiro, como no Bar da Cachaça, no Bar do Adalto, nos botequins de Belo Horizonte. Além das receitas, o que marcou bastante também foram os nomes, a maioria surgiram em momentos de brincadeira e foram tomando forma – conta Raí – Sem tirar nossas homenagens aos grandes Juarez Becoza e Serjão do Sat´s, com os coquetéis Becoza, com “Z” mesmo, referência ao nome do jornalista; e o Muquira, referência à palavra que Serjão usa com grande frequência. São feitos com bebidas e ingredientes que os dois têm costume de tomar, como cachaça e Campari.
Na ala dos clássicos tem, Caju Amigo (R$ 29), Rabo de Galo (R$ 25), Bombeirinho (R$ 22), Macunaíma (R$ 24), Jorge Amado (R$ 26), Caipirinha (R$ 24), entre outros.
A mineirice do bar é o quinhão do Raí, que desenhou um roteiro de 22 botecos em dois dias por Belo Horizonte para pesquisar sabores que trariam para cá.
– Para estabelecer o conceito da casa com essa mistura de Minas e Rio, eu e Igor fomos a BH, a capital dos botecos, para pegar algumas referências de bebidas e comidas. Visitamos 22 bares em dois dias, comendo e bebendo como se não houvesse amanhã. Passamos por botecos pé sujos do centro da cidade, onde todos sempre têm uma cerveja gelada e tira-gostos incríveis – lembra Raí, que voltou cheio de referências.
O resultado foi um misto de sotaques que deu liga. Típico dos botecos mais duvidosos, o ovo colorido ganhou versão irretocável. No Suru, ele surge como ovo de codorna curado na conserva de beterraba (R$ 12). Outras iguarias do cardápio valem cada mordida, como os rollmops, filé de sardinha curada, enrolada com conserva de cebola pérola (R$ 13), a linguicinha fina curada em conserva de azeite composto (R$ 26), o pão de queijo frito com melaço picante (R$ 24) e o risole de língua (R$ 17). O sanduíche de cupim com molho no pão francês (R$ 26) merece mais, é um esculacho de bom.
Um dos grandes baratos do lugar é a decoração, que dá pistas que Edu Araújo e Jonas Aisengart (Quartinho, Chanchada) também estão no negócio. De pé direito alto, com prateleiras altíssimas e nas cores da Estação Primeira de Mangueira – escola de coração de Igor – o bar tem ainda mesas de madeira e de engradados de cerveja no salão, os minibalcões para aboletar o cotovelo e estacionar a cerveja no corredor dão aquela tranquilidade para quem gosta de beber em pé. Além de várias referências da cultura standard, como capas de LPs de Zeca Pagodinho, Raça Negra e Neguinho da Beija-Flor, e um luminoso antigo com fios desencapados das sandálias Azaléia, que faz você não saber ao certo há quanto tempo a birosca abriu as portas. Tudo junto e misturado, como o CEP pede.
– É um bar que eu gostaria de ir depois do meu trabalho ou quando estivesse de folga. Abrimos às segundas-feiras para que seja um bar que os bartenders e as pessoas do meio possam aproveitar. Isso também influencia no preço porque para trazer a galera da área, a gente sabe que tem que ser acessível, porque ninguém ganha rios de dinheiro, por isso também tem cerveja. Bartender ama uma cerveja, né? – conta Igor
– Suru é essa mistura de culturas, de pessoas, de pensamentos, a boa coquetelaria com um preço abaixo do praticado no tradicional mercado de coquetéis, uma boa comida feita com carinho e qualidade. Essa mistura de Minas com Rio, que é uma paixão antiga e de through dupla – completa Raí.
Conheça a carta
Surubeba (R$ 14): Jurubeba, Cinzano, Cynar
Becoza (R$ 24): Cachaça branca, Becoza, louro, limão e bitter
Magaleta (R$ 26): Vodca, purÇe de manga com malagueta, espuma de gengibre)
Cocota (R$ 28): Gim, licor de abacaxi, mate e melaço
Mas Quinado (R$ 22): Quinado artesanal, morango e tônica cítrica
Pitty Colada (R$ Rum Paranoica, Jambuzada de abcaxi, cupuaçu, coco e Ginger Ale)
Muquirana (R$ 23): Campari, tônica de laranja, e compromisso com quem bebe)
Mané Galinha (R$ 25): Cachaça Amburana, Cynar e soda de gengibre)
Surupinga (R$22): Cachaça prata, Jurupinga, e frutas da estação)